segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Crônica; "Botecoterapia"



Certo dia normal de happy-hours felizes da noite paulistana, no bairro tradicional dos bares 24 horas que funcionam até as 2 da manhã, uma roda de pseudo-intelectuais e aspirantes a socialites tomam seus goles de ego e falam sobre suas bebidas.

Três rapazes e duas garotas, um deles daria problema ao desenhista de retrado-falado, não saberia dizer que traços femininos preenchiam a face dele ou vice-versa. Conversam sobre as banalidades que eles consideram importantes como o jogo da quarta-feira ou a descrição correta da síndrome de Portnoy, quando se aproximam da mesa mais duas garotas.

"Oi gente!", disse a mais alta.
"Oi, vamos chegando! E ai? Como estão!", responde um dos rapazes já afastando a mesa e comprimentando-as.
"Tudo certo, e tá faltando gente hein? Aonde está o resto do pessoal?", disse a outra moça recém-chegada ao sentar e acender um cigarro tão bem quanto um koala.
"Já estão vindo! E ai, pegaram muito trânsito?", acalmou o homem com cara de mulher ou vice-versa.
"Um pouco! São Paulo né? Não tem jeito! E quanto está o jogo!?"
"Um a zero para o glorioso Timão!", respondeu rápido um dos rapazes como se com o resultado a sua conta bancária aumentasse a cada minuto.
"E vocês meninas, contem ai, conseguiram!?", interrompe uma das outras mulheres.
"Sim! Nossa! Foi demais sabe! Achamos que não ia dar pra vender, mas no final, mostramos os slides e foi sucesso!"
"Que ótimo!", comemoram como crianças de 12 anos dando as mãos depois de um jogo ganho de queimada.
"Mas, não estava vendido já!?
"Quase! O Marcelo pediu pra gente tentar com eles um preço maior!"
Nesse momento um ponto de interrogação se conjura na cabeça das pessoas que ali já estavam, como quando sua esposa lhe chama pela quarta vez enquanto você está concentrado na bunda da garçonete.
"O Marcelo...?", constata a mulher com cara de homem ou vice-versa.
"É! Marcelinho! Vocês não são do setor do Marcelinho!?", pergunta a mais baixa com um sorriso de prazo de validade vencido.
"Não.", disse um deles enquanto o ponto de interrogação já fazia cafunés em seus cabelos.
"Mesmo? É que a gente marcou aqui com o Marcelo e..."
"Eu sou a Cristiane, esse é meu irmão Luiz e nós trabalhamos aqui perto na Export...vocês não são amigas do Bruno? Que estava vindo!?"
"Não. Desculpa, achei que conhecia vocês...", já disse a mais baixa recolhendo a bolsa e se levantando. "É, vamos procurar o Marcelo! Desculpem!", despediu-se a mais alta.

Levantaram e foram embora. A dúvida e a cara de confusão na mesa foi logo cortada pelo grito de gol vindo do televisor.

Enquanto isso Marcelo jogava dados, bêbado, com três bolivianos costureiros em um porão no Brás.