domingo, 21 de março de 2010

Conto; "Se segura malandro..."



O estagiário Artur andava pela rua, como sempre, apressado, com sua roupa social impecável e o cinto apertado acima da cintura para parecer mais magro e alto, seguia pro edifício onde trabalha na zona Sul de São Paulo, para diante da faixa de pedestre.
Sempre preocupado pelo atraso, resolve correr para atravessar mesmo com o sinal vermelho. Ao pular pela ultima faixa um motorista buzina e grita:
- Quer morrer jovem moleque! Tá louco!
Sem dar ouvidos, Artur entra no prédio e vai direto a sua sala, um recado sobre mesa diz que tem uma reunião marcada para dali 10 minutos, mas não dizia com quem e nem ele mesmo se recordava de ter marcado tal evento.
Passados os minutos, entra em sua sala um senhor, baixo, loiro-grisalho, de sorriso no rosto e simpático; Artur se prontifica no susto;
- Bom dia, sente-se, meu nome é...
- Artur! Eu sei! Bom dia!
- ..é Artur...nós já nos falamos antes?
- Hahaha! Claro que já, bom...muito prazer eu sou você, amanhã. Eu só não me apresentei antes por medo de desmotivar.

O sorriso de Artur some. A dúvida aparece em seu rosto como que crente que era uma brincadeira de alguém. Pergunta;

- Como assim? Você está brincando?
- Não! Olha pra mim, não pareço com você? Nossa voz só está mais grossa e envelhecida!

Artur nota a semelhança e tremendo, começa a acreditar. Mudo.

- Olha eu sei que é triste...mas não se deixe abalar! Você terá dias bons, cujo número eu posso contar...
- Calma, eu não estou triste! Mas, eu vou me tornar...você? Eu vou ser assim?
- Sim! Não vou mentir, na sua média você será...medíocre.
- Medíocre!? Você já está dizendo que eu não vou conseguir nada do que eu quero, nem fazer tudo que eu espero? Que minha vida vai ser uma...
- Mediocridade!
- Ah! Para o que você quer de verdade!?
- Que você aproveite!! Eu sei o quanto eu sinto saudade!
- Saudade do que? De ser eu?
- É! Saudade desse tempo, do tempo em que eu me achava esperto, do tempo em que eu esperava dar certo, do tempo que eu...me achava!

- E eu tenho que aproveitar mais então? Que ridículo...
- Exatamente! Você está vendo como vai ficar se continuar assim, olha, não quero te iludir, não quero te enganar...mas você está desperdiçando o que era pouco, muito pouco, quase nada!
- ...
- E está para acabar, viu? A-ca-bar!

O homem sai, e antes de fechar a porta da sua sala diz;
- Você quer morrer jovem? Se segura malandro...

(...)

Artur abre os olhos e olha para a cabeçeira, o radio-relógio indica, Segunda-feira, 8 de Março de 2010, 6:30 da manhã.
- Saco! Tô atrasado!

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Conto inspirado por e adaptado da música "Esquilo Não Samba" de Leonardo Bursztyn, para o 'Móveis Coloniais de Acaju' .

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